variações de um covil de bandido
ARAUTO
trepam heras
ao céu temperado
a silhuetas ébrias
auto de prazer
em terraço antagónico
ao combate
sob horizonte de neblinas
ténues ilhas por desbravar
a essência
embate a embate
pólo magnético
floresta de símbolos
erguidos por impérios
sem anciãos dignos
de tal ascendência
de parte a parte
entregues ao terraço
renegados
por desarmar
para renunciar
a esse mundo anterior
face à linha infinita do oceano
queima-lhes as pálpebras
ilha densa de musa
e a guerra finda
como uma miragem
soltos na sua miséria
sob pilares, desesperados
cindidos da confusão
repousam por fim a visão
a ilusória esperança
no pagode
que lhes oferece
um arauto
ele mesmo inventado
(i)
bordadura gráfica
por onde desce o rio
seco
convalescente
na parede-média a bandeira
rasgada entre
lança e dragão
(ii)
perímetro de tecidos
refinados
vermelho vivo
cortado pela luz
rodeado de inebriantes
no esfumar passageiro
da alvorada
diletantes
de folia desmedida
até que a alcance
um sono impossível
(iii)
impertinente galante
no romance
do estuário
escondido em mata
junto à principal estrada
o mar cravado de navios
abre-se na noite
uma clareira
labareda alta
mapa no tear
rota da ambição
afiada
passo certo
em direção
ao antro de usurpadores
singularmente belo
(iv)
arsenal
casernas
um templo
e um cemitério
toda uma existência
sob vapor de prata
incursão triunfal
quase sigilo
no princípio
costas nuas
punhal delineado
augúrio feroz
ronda o suculento
sustento dos lacaios
febre militar
(v)
tange tágides
o circuito rotineiro
pela colina junto ao rio
já no morro
as canções
dão-se
às deleitadas
do mito plantadas
na água
(vi)
esplendem
notas bandoleiras
irradiando o olhar
sob o chapéu
de pedrarias
o pandito
na noite
de sorriso
cintilante
(vii)
sofá opulento
almofadas
flor de lótus
adormecida
no embalo dos deuses
sonhando poesia
e orgias
(viii)
a galeota coçada no recife
desfolhados os penachos aos generais
enfim zás, o bando por terra
segundo a gazeta
(ix)
seguindo o trilho
silvestre
náufragados
da duna mudada
a cada estação
pendurado na corda
ou na linha fina entre
ravinas
mãos no bigode
e nas ancas
(x)
à roda das estrelícias
saiu para o campo
zumbindo
cabelos crespos
embrenhados em carícias
(xi)
gruta
ladrão e príncipe
furando-a
até ao tesouro
(xii)
impávido de brio
sonolento sobre a praia de corais
manobrou a serrania
com o leme ao coração